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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Onde celebrar? (CIC 1179-1186)

Onde celebrar? (CIC 1179-1186)



Rubrica de Teologia litúrgica aos cuidados do Pe. Mauro Gagliardi



Uwe Michael Lang*

ROMA, quarta-feira, 27 de junho de 2012 (ZENIT.org) - Com o artigo de hoje, conclui-se o quarto ano da rubrica “Espírito da Liturgia", que neste ano dedicamos ao ensinamento litúrgico do Catecismo da Igreja Católica, em preparação para o Ano da Fé. Ao despedir-nos dos nossos leitores, esperamos reencontrar-los no próximo mês de outubro (Pe. Mauro Gagliardi).

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Na sua existência, o homem é identificado por duas coordenadas fundamentais: o espaço e o tempo, duas realidades que não se constroem, mas que lhe são dadas. O homem está ligado ao espaço e ao tempo, e também a sua oração a Deus está. Enquanto a oração como simples ato religioso pode ser feita em todos os lugares, a liturgia, no entanto, como um ato de culto público e ordenado, requer um lugar, geralmente um edifício, onde possa ser realizada como rito sagrado.

O edifício de culto cristão não é o equivalente do templo pagão, onde a câmara com a imagem da divindade também era considerada, de alguma forma, a casa dela. Como diz São Paulo aos atenienses: "Deus não habita em templos construídos pelo homem" (Atos dos Apóstolos 17,24).

Em vez disso, há um relacionamento mais próximo com a Tenda do Encontro, erguida no deserto de acordo com as instruções do próprio Deus, onde a glória do Senhor (shekinah) se manifestava (Êxodos 25,22; 40,34). No entanto, Salomão, depois de ter construído o Templo de Jerusalém, o prédio que toma o lugar da Tenda da reunião,  exclama: "Mas será que é verdade que Deus habita na terra? Eis os céus, e os céus dos céus não podem te conter, muito menos esta casa que eu edifiquei!" (1 Reis 8,27). Na história do povo de Israel há uma espiritualização, que leva à famosa passagem do profeta Isaías: "Toda a terra está cheia de sua glória" (Isaías 6,3; cf. Jeremias 23,24; Salmos 139,1-8; Sabedoria 1,7), texto passado depois para o Sanctus da Liturgia Eucarística. "Toda a terra é santa e confiada aos filhos dos homens" (Catecismo da Igreja Católica, n. 1179).

Uma nova etapa está presente no Evangelho segundo João, quando Cristo declara, durante o seu encontro com a mulher Samaritana, que "chegou a hora, e agora é quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade" (João 4,23). Isso não significa que, à luz do Evangelho, não se deveria ter algum culto público ou edifício sagrado. O Senhor não disse que não deveriam ter lugares de culto na Nova Aliança;  ao mesmo tempo, na profecia sobre a destruição do Templo, Ele não afirma que nunca mais deva existir edifícios construídos em honra de Deus, mas sim que não deve existir somente um lugar exclusivo.

O próprio Cristo, seu corpo vivo, ressuscitado e glorificado, é o novo templo onde Deus habita e onde acontece o seu culto universal "em espírito e verdade" (cf. J. Ratzinger, Introduzione allo spirito della liturgia, San Paolo, Cinisello Balsamo 2001, pgs. 39-40). Como São Paulo escreve: "É em Cristo que habita corporalmente toda a plenitude da divindade e vocês têm nele parte da sua plenitude” (Colossenses 2, 9-10). Por participação, por força do Batismo, também o corpo do cristão se torna templo de Deus (1 Coríntios 3, 16-17; 6,19; Efésios 2, 22). Usando uma frase muito querida por Santo Agostinho, Christus Totus, o Cristo inteiro é o verdadeiro lugar de culto cristão, isto é, Cristo como Cabeça e os cristãos como membros do seu Corpo Místico. Os fiéis que se reunem num mesmo lugar para o culto divino são as "pedras vivas", colocadas juntas “para a construção de um edifício espiritual” (1 Pedro 2,4-5). De fato, é significativo que a palabra que antes indicava a ação do reunir-se dos cristãos, ou seja ekklesia – Igreja –, tenha passado a indicar o mesmo lugar onde acontece a reunião. O Catecismo da Igreja Católica insiste no fato de que as igrejas (como edifícios) "não são simples lugares de reunião, mas significam e manifestam a Igreja que vive naquele lugar, lar de Deus com os homens reconciliados e unidos em Cristo” (n. 1180).

Em época paleocristiana, forma típica do edifício igreja foi a basílica com grande nave central retangular, que termina num ábside semicircular. Tal tipo de edifício correspondia às exigência da liturgia cristã e, ao mesmo tempo, deixava grande liberdade aos contrutores, para a escolha dos elementos arquitetônicos e artísticos. A basílica exprime também uma orientação axial, que abre a assembléia para as dimensões transcendente e escatológica da ação litúrgica. Na tradição latina, a disposição do espaço litúrgico com a orientação axial permaneceu como norma e se acha que também hoje seja a melhor forma, porque exprime o dinamismo de uma comunidade a caminho do Senhor.

Como afirma Bento XVI, "a natureza do templo cristão define-se pela mesma ação litúrgica” (Sacramentum Caritatis, n. 41). Por esta razão, também o projeto das alfaias sacras (altar, tabernáculo, sede, ambão, batistério, lugar da penitência) não pode apenas seguir critérios funcionais. A arquitetura e a arte não são elementos extrínsecos à liturgia e nem sequer têm uma função meramente decorativa. Por isso, o compromisso de construir ou adequar as igrejas deve estar permeado do Espírito e das normas da liturgia da Igreja, ou seja daquela lex orandi que exprime a lex credendi, e disso nasce a grande responsabilidade seja dos que projetam seja dos que encomendam.

* Padre Uwe Michael Lang, C.O., é um Oficial da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e Consultor do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.

FONTE: ZENIT

sábado, 23 de junho de 2012

MONS. SCHNEIDER E A LITURGIA:HORIZONTES PARA O 3º MILÉNIO - Segunda parte.

Caros Irmãos, pax.

Trazemos agora a segunda parte da refexão de D Athanasius Shneider, como falamos no post anterior, que a sempre excelente Pax Liturgique publicou em sua carta 27, onde sua eminencia aborda o tema "A Forma Extraordinária e a Nova Evangelização”.

"A primeira chaga, e a mais evidente, é a celebração do sacrifício da missa tendo o sacerdote o seu rosto virado para os fiéis, nomeadamente na altura da oração eucarística e da consagração, o momento mais alto e mais sagrado de adoração a Deus. Pela sua natureza, esta forma exterior corresponde mais ao modo em que se dá uma aula ou se partilha uma refeição. Estamos em presença de um círculo fechado. E esta forma não é de todo conforme a um momento de oração, e menos ainda de adoração."


Dom Athanasius Shneider

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Segunda parte

III – Os seis princípios da reforma litúrgicaO Concílio Vaticano II proclamou a respeito da reforma litúrgica os seguintes princípios:

1. Durante a celebração litúrgica, o humano, o temporal, a actividade devem orientar-se pelo divino, pelo eterno, pela contemplação, e devem ter um papel subordinado a estes últimos (cf. Sacrosanctum Concilium, 2).

2. Durante a celebração litúrgica, deve-se encorajar a tomada de consciência de que a liturgia terrestre participa da liturgia celeste (cf. Sacrosanctum Concilium, 8).

3. Não deve aí ocorrer em absoluto qualquer inovação, e assim, qualquer criação de novos ritos litúrgicos, sobretudo no interior do rito da missa, excepto se for para se obter uma vantagem verdadeira e certa em favor da Igreja, mas sob condição de se proceder com prudência e de que, nessa eventualidade, as novas formas substituam de modo orgânico as formas já existentes (cf. Sacrosanctum Concilium, 23).

4. Os ritos da missa devem ser de maneira a exprimir o sagrado mais explicitamente (cf. Sacrosanctum Concilium, 21).

5. O latim deve ser conservado na liturgia e sobretudo na Santa Missa (cf. Sacrosanctum Concilium, 36 et 54).

6. O canto gregoriano tem o primeiro lugar na liturgia (cf. Sacrosanctum Concilium, 116).

Os padres do concílio viam as suas propostas de reforma como a continuação da reforma de São Pio X (cf. Sacrosanctum Concilium, 112 et 117) e do servo de Deus Pio XII, e, de facto, na constituição litúrgica, foi a encíclica Mediator Dei, do Papa Pio XII, o documento que eles mais citaram.

O Papa Pio XII deixou à Igreja, entre outros, um importante princípio da doutrina sobre a Sagrada Liturgia, qual seja, a condenação do que se costuma chamar de arqueologismo litúrgico, cujas propostas coincidiam "grosso modo" com as do sínodo jansenista e protestantizante de Pistóia, de 1786 (cf. Mediator Dei, n° 63-64) e que, de facto, recordam os pensamentos teológicos de Martinho Lutero.

É por isso que já o Concílio de Trento condenara as ideias litúrgicas protestantes, nomeadamente a acentuação exagerada, na celebração eucarística, da noção de banquete em detrimento do caráter sacrificial, e a supressão dos sinais unívocos da sacralidade enquanto expressão do mistério da liturgia (cf. Concile de Trente, sessio XXII ).

As declarações litúrgicas doutrinais do magistério — como foi o caso do Concílio de Trento e da encíclica Mediator Dei —, que se refletem numa praxis litúrgica secular, e até mesmo com mais de um milénio, uma prática constante e universal, estas declarações, dizíamos, fazem parte desse elemento da santa tradição que não podemos abandonar sem que soframos grandes prejuízos no plano espiritual. Estas declarações doutrinais sobre a liturgia, Vaticano II retomou-as, como podemos constatar ao ler os princípios gerais do culto divino na constituição litúrgica Sacrossanctum Concilium.

Como erro concreto no pensamento e no agir do arqueologismo litúrgico, cita o Papa Pio XII a proposta de se dar ao altar a forma de uma mesa (cf. Mediator Dei n° 62). Se o Papa Pio XII recusava mesmo o altar em forma de mesa, bem se pode imaginar que forçosamente teria recusado a proposta de uma celebração à volta de uma mesa, “versus populum” [de frente para o povo]!

Se a Sacrosanctum Concilium ensina, no seu nº 2, que, na liturgia, a contemplação dever ter a prioridade e que toda a celebração da missa deve ser orientada para os mistérios celestes (cf. idem n° 2 et n° 8), o que aí encontramos é um eco fiel da seguinte declaração do Concílio de Trento: «Uma vez que a natureza do homem é feita de tal maneira que não se deixa elevar facilmente à contemplação das coisas divinas sem ajudas exteriores, a Santa Madre Igreja, na sua benevolência, introduziu ritos precisos; recorreu ela, apoiando-se no ensinamento apostólico e na tradição, a cerimónias como bênçãos impregnadas de mistério, velas, incenso, vestimentas litúrgicas e muitas outras coisas; tudo isso deveria incitar os espíritos dos fiéis à contemplação das coisas sublimes, graças a sinais visíveis de religião e piedade» (sessio XXII, cap. 5).

Os ensinamentos do magistério da Igreja citados, e sobretudo os da Mediator Dei, sem dúvida alguma que foram reconhecidos pelos padres conciliares como plenamente válidos; por consequência, eles devem continuar a ser plenamente válidos para todos os filhos da Igreja, também hoje.


IV – As cinco chagas do corpo místico litúrgico de Cristo

Na sua carta dirigida a todos os bispos da Igreja Católica, que Bento XVI juntou ao Motu proprio Summorum pontificum, de 7 de Julho de 2007, o Papa faz esta importante declaração: «Na história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós». Ao dizer isto, o Papa expressa o princípio fundamental da liturgia que o Concílio de Trento, o Papa Pio XII e o Concílio Vaticano II ensinaram.

Se olharmos sem ideias pré-concebidas e de maneira objectiva para a prática litúrgica da esmagadora maioria das igrejas em todo o mundo católico em que é usada a forma ordinária do rito romano, ninguém pode negar em toda a honestidade que os mencionados seis princípios litúrgicos do Concílio Vaticano II não são respeitados, ou são-no muito pouco, ainda que se afirme erroneamente que uma tal prática litúrgica foi desejada pelo Vaticano II. Na prática litúrgica actualmente dominante, dentro do rito ordinário, há um certo número de aspectos concretos que representam uma verdadeira ruptura com uma prática litúrgica que era constante há mais de um milénio. Do que se trata é dos seguintes cinco usos que podemos designar como sendo as cinco chagas do corpo místico litúrgico de Cristo. E são chagas, porque representam um ruptura violenta com o passado, porque põem menos a tónica no caráter sacrificial — conquanto seja ele mesmo, afinal, o caráter central e essencial da missa —, pondo-a antes de mais no aspecto do banquete. Tudo isso vem diminuir os sinais exteriores de adoração, pois tais chagas vêm dar menos destaque ao caráter de mistério daquilo que é celeste e eterno.

Quanto a estas cinco chagas, à excepção de uma delas (as novas orações do ofertório), elas não estão previstas na forma ordinária do rito da missa, mas foram introduzidas de modo deplorável pela prática.

A) A primeira chaga, e a mais evidente, é a celebração do sacrifício da missa tendo o sacerdote o seu rosto virado para os fiéis, nomeadamente na altura da oração eucarística e da consagração, o momento mais alto e mais sagrado de adoração a Deus. Pela sua natureza, esta forma exterior corresponde mais ao modo em que se dá uma aula ou se partilha uma refeição. Estamos em presença de um círculo fechado. E esta forma não é de todo conforme a um momento de oração, e menos ainda de adoração. Ora uma tal forma não foi em hipótese alguma desejada pelo Concílio Vaticano II, e jamais foi recomendada pelo magistério dos Papas pós-conciliares. O Papa Bento XVI escreve assim no seu prefácio ao primeiro volume das suas obras completas: «A ideia de que o sacerdote e a assembleia se devem mirar durante a oração nasceu entre os modernos e é totalmente estranha à cristandade tradicional. O sacerdote e a assembleia não se dirigem mutuamente uma oração, é ao Senhor que eles se dirigem. É por isso que na oração eles olham na mesma direcção: ou para o Oriente, que é o símbolo cósmico do regresso de Nosso Senhor, ou então, onde isso não seja possível, para uma imagem de Cristo situada na ábside, para uma cruz ou, muito simplesmente, todos juntos para o alto».

A forma da celebração em que todos dirigem o olhar para a mesma direcção (conversi ad orientem, ad Crucem, ad Dominum) é mesmo evocada pelas rubricas do novo rito da missa (cf. Ordo Missae, n. 25, n. 133 e n. 134). A celebração que apelidamos de “versus populum” certamente não corresponde à ideia da Sagrada Liturgia tal como ela aparece nas declarações de Sacrosanctum Concilium n°2 e n° 8.

B) A segunda chaga é a comunhão na mão, espalhada no mundo praticamente por toda a parte. Não somente esta forma de receber a comunhão de nenhum modo foi acenada pelos Padres conciliares do Vaticano II, mas foi pura e simplesmente introduzida por um certo número de bispos em desobediência à Santa Sé, e com desprezo pelo voto negativo dado em 1968 pela maioria do corpo episcopal. Foi só mais tarde que o Papa Paulo VI a legitimou sob algumas condições, e a contragosto.

O Papa Bento XVI, desde a festa do Santíssimo Sacramento de 2008, já não distribui a comunhão a não ser a fiéis ajoelhados e na língua, e isso não apenas em Roma, mas também em todas as igrejas locais que visita. Com isso, ele dá a toda a Igreja um exemplo claro do magistério prático em matéria litúrgica. Se a maioria qualificada do corpo episcopal, três anos após o concílio, recusou a comunhão na mão como algo de nocivo, quanto mais não o teriam recusado também os Padres conciliares!

C) A terceira chaga são as novas orações do ofertório. São elas uma criação inteiramente nova e jamais estiveram em uso na Igreja. Elas exprimem menos a evocação do mistério do sacrifício da cruz e mais a de um banquete, fazendo lembrar as orações da refeição sabática judia. Na tradição mais que milenar da Igreja do Ocidente e do Oriente , as orações do ofertório sempre estiveram centradas expressamente sobre o eixo que é o mistério do sacrifício da cruz (cf., p. ex., Paul Tirot, Histoire des prières d’offertoire dans la liturgie romaine du VIIème au XVIème siècle, Roma, 1985). Esta criação absolutamente nova está sem qualquer margem de dúvida em contradição com a clara formulação do Vaticano II, que nos recorda: « Innovationes ne fiant … novae formae ex formis iam exstantibus organice crescant » (2) (Sacrosanctum Concilium, 23).

D) A quarta chaga é a desaparição total do latim na imensa maioria das celebrações eucarísticas da forma ordinária em todos os países católicos. É esta uma directa infracção contra as decisões do Vaticano II.

E) A quinta chaga é o exercício dos serviços litúrgicos de leitor e de acólito por mulheres, bem como o exercício destes mesmos serviços com roupa civil acedendo-se ao presbitério durante a Santa Missa directamente a partir do espaço reservado aos fiéis. Este costume jamais existiu na Igreja, ou, pelo menos, jamais foi bem-vindo. Ele confere à celebração da missa católica o caráter exterior duma coisa informal, o caráter e o estilo mais próprio duma assembleia profana. Já o segundo concílio de Niceia proibia, em 787, tais práticas, tendo editado este cânone: «A quem não for ordenado, não se lhe permita fazer a leitura a partir do ambão durante a santa liturgia» (cân. 14). Esta foi uma forma que foi constantemente respeitada na Igreja. Só os subdiáconos e os leitores tinham o direito de fazer a leitura durante a liturgia da missa. Faltando leitores ou acólitos, e em sua substituição, são homens ou rapazes em vestes litúrgicas que o podem fazer, e não as mulheres, uma vez que o sexo masculino, no âmbito da ordenação não sacramental dos leitores e acólitos, representa simbolicamente o último laço com as ordens menores.

Nos textos de Vaticano II, nenhuma menção se faz à supressão das ordens menores e do subdiácono, nem da introdução de novos ministérios. Em Sacrosanctum Concilium n° 28, o concílio estabelece a diferença entre «minister» e «fidelis» no interior da celebração litúrgica, e estipula que tanto um como o outro não têm senão o direito de fazer o que lhes convém segundo a natureza da liturgia. O nº29 menciona os «ministrantes», isto é, aqueles que ajudam no serviço do altar sem terem recebido qualquer ordenação. Em contraposição a estes, segundo os termos jurídicos da época, haveria então os «ministri», isto é, os que receberam uma ordem, seja ela maior ou menor.


V – O Motu proprio, para pôr fim à ruptura litúrgica

Com o Motu proprio Summorum pontificum, o Papa Bento XVI estipulou que as duas formas do rito romano devem ser olhadas e tratadas com igual respeito, já que a Igreja é a mesma antes e depois do concílio. Na carta que acompanhou o Motu proprio, o Papa expressa o desejo de que as duas formas se enriqueçam mutuamente. Além disso, ele deseja ainda que na nova forma se possa «manifestar, de maneira mais intensa do que frequentemente tem acontecido até agora, aquela sacralidade que atrai muitos para o uso antigo».

As quatro chagas ou hábitos infelizes (celebração “versus populum”, comunhão na mão, total abandono do latim e do canto gregoriano, e a intervenção de mulheres no serviço de leitura e no de acolitado), em si, nada têm que ver com a forma ordinária da missa e, a mais disso, estão em contradição com os princípios litúrgicos de Vaticano II. Se puséssemos termo a estes usos, estaríamos a seguir o verdadeiro ensinamento litúrgico de Vaticano II. E então, as duas formas do rito romano aproximar-se-iam enormemente, de maneira que, pelo menos do ponto de vista exterior, não observaríamos qualquer ruptura entre elas, e por isso mesmo, também já não haveria ruptura entre a Igreja de antes do concílio e aquela de depois.

No que toca às novas orações do ofertório, seria desejável que a Santa Sé as substituísse pelas orações correspondentes da forma extraordinária, ou, pelo menos, que permitisse a sua utilização “ad libitum”. Deste modo, não seria apenas exteriormente, mas também interiormente que se evitaria a ruptura entre as duas formas. Uma ruptura na liturgia é precisamente o que os Padres conciliares não quiseram; isso mesmo é o que testemunham as actas do concílio, pois nos dois mil anos de história da Santa Igreja, jamais houve ruptura litúrgica, e por consequência, jamais deverá dar-se uma tal ruptura. O que, ao contrário, deve haver é uma continuidade, que é o mesmo que convém no caso do magistério.

As cinco chagas do corpo litúrgico da Igreja aqui evocadas reclamam a sua cura. Elas representam uma ruptura comparável à do exílio de Avinhão. A situação é a de uma ruptura tão clara numa das expressões da vida da Igreja, que está longe de ser algo sem importância — outrora era a ausência dos Papas da cidade de Roma, hoje é a ruptura visível entre a liturgia de antes e de depois do concílio: é, pois, uma situação que reclama uma cura.

É por isso que precisamos hoje de novos santos, de uma ou de várias Santas Catarina de Siena. Precisamos da “vox populi fidelis” a reclamar a supressão desta ruptura litúrgica. Mas o trágico da história, hoje como outrora, no tempo do exílio de Avinhão, é que sobretudo o alto clero está satisfeito com este exílio, com esta ruptura.

Antes que possamos esperar frutos eficazes e duradouros da nova evangelização, é preciso, primeiro, que se instaure no interior da Igreja um processo de conversão. Como podemos nós fazer apelo aos outros para que se convertam, enquanto, entre os apelantes, ainda não se viu uma conversão para Deus convincente, já que na liturgia eles ainda não se voltaram suficientemente para Deus, tanto interior como exteriormente. Celebra-se o sacrifício da missa, o sacrifício da adoração de Cristo, o maior dos mistérios da fé, o acto de adoração mais sublime, num círculo fechado enquanto as pessoas olham umas para as outras.

Falta, mesmo exterior e fisicamente, a necessária «conversio ad Dominum». Isto porque durante a liturgia se trata Cristo como se ele não fosse Deus, e não se lhe manifesta claros sinais exteriores daquela adoração que é devida só a Deus, o que se vê no facto de os fiéis receberem a sagrada comunhão de pé, e, mais ainda, tomando-a com as próprias mãos como se fosse um alimento ordinário, agarrando-a com os próprios dedos e metendo-a por si mesmos na própria boca. Há nisto o risco de uma espécie de arianismo ou de semi-arianismo eucarístico.

Uma das condições necessárias para uma nova evangelização frutuosa seria o seguinte testemunho por parte de toda a Igreja no âmbito do culto litúrgico público, observando pelo menos estes dois aspetos do culto divino:

1) Que por toda a terra, a Santa Missa seja celebrada, mesmo na forma ordinária, em «conversio ad Dominum», interiormente e também, necessariamente, exteriormente.

2) Que os fiéis dobrem o joelho diante de Cristo no momento da sagrada comunhão, como pede São Paulo quando se evoca o nome e a pessoa de Cristo (cf. Phil. 2, 10), e que eles O recebam com o maior amor e respeito que for possível, como Lhe convém enquanto verdadeiro Deus.

Com duas medidas concretas, o Papa Bento XVI encetou, Deus seja louvado, o processo de regresso do exílio litúrgico de Avinhão, isto é, com o Motu proprio Summorum pontificum e com a reintrodução do rito da comunhão tradicional.

São ainda necessárias muitas orações e, talvez, uma nova Santa Catarina de Siena, para que os outros passos se sigam, de maneira a que sejam curadas as cinco chagas abertas sobre o corpo litúrgico e místico da Igreja e para que Deus seja venerado na liturgia com aquele amor, aquele respeito e aquele sentido do sublime que sempre foram a marca da Igreja e dos seus ensinamentos, nomeadamente através do Concílio de Trento, do Papa Pio XII na sua encíclica Mediator Dei, do Concílio Vaticano II na sua constituição Sacrosanctum Concilium, e do Papa Bento XVI na sua teologia da liturgia, no seu magistério litúrgico prático e no Motu proprio já citado.

Ninguém pode evangelizar se antes não tiver adorado, ou até mesmo se não adora permanentemente e não dá a Deus, o Cristo Eucaristia, a verdadeira prioridade no modo de celebrar e em toda a sua vida. Na verdade, para retomar as palavras do Cardeal Joseph Ratzinger: «É na maneira de tratar a liturgia que se decide a sorte da Fé e da Igreja».
(1) Mgr Schneider, bispo auxiliar da arquidiocese de Santa Maria de Astana, secretário da Conferência Episcopal do Cazaquistão, e grande promotor da comunhão na boca, já concedeu uma longa entrevista à Paix Liturgique, que foi publicada nas nossas cartas 9, 10 et 11.

(2) N.T. : «não se introduzam inovações … as novas formas surjam organicamente a partir das já existentes».


FONTE: Paix Liturgique

Dom Athanasius Shneider


 
"A ideia de que o sacerdote e a assembleia se devem mirar durante a oração nasceu entre os modernos e é totalmente estranha à cristandade tradicional. O sacerdote e a assembleia não se dirigem mutuamente uma oração, é ao Senhor que eles se dirigem. É por isso que na oração eles olham na mesma direcção: ou para o Oriente, que é o símbolo cósmico do regresso de Nosso Senhor, ou então, onde isso não seja possível, para uma imagem de Cristo situada na ábside, para uma cruz ou, muito simplesmente, todos juntos para o alto."
Papa Bento XVI

segunda-feira, 18 de junho de 2012

MONS. SCHNEIDER E A LITURGIA:HORIZONTES PARA O 3º MILÉNIO


MONS. SCHNEIDER E A LITURGIA:
 HORIZONTES PARA O 3º MILÊNIO

Caros irmãos,

A excelente Pax Liturgique publicou em sua carta 27 um grande texto de D. Athanasius Schneider que trazemos a baixo e postaremos em duas partes para que os irmãos possam ler-lo calmamente e retirar destas reflexões lições para nosso apostolado em favor da Sagrada Liturgia.

Ave Maria Immaculata.


Dom Athanasius Shneider

"Quanto mais, durante as celebrações eucarísticas, os fiéis procurarem em verdade a glória de Deus e não a glória dos homens, nem procurarem receber a glória uns dos outros, mais Deus os honrará, deixando que a sua alma participe mais intensamente da Glória e da Honra da Sua vida divina."
D. Athanasius Schneider
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Parte 01

A 15 de Janeiro de 2012, a associação parisiense “Réunicatho”, nascida logo após o Motu proprio Summorum pontificum, organizou o seu 4º encontro para a unidade católica. Reproduzimos a seguir, na íntegra, o texto da intervenção do convidado de honra desta jornada, o Mons. Athanasius Schneider (1), sobre o tema “A Forma Extraordinária e a Nova Evangelização”.


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(os títulos são da redação)

I – Voltar o nosso olhar para Cristo

Para se falar corretamente sobre a nova evangelização, é indispensável que, antes de mais, voltemos o nosso olhar para Aquele que é o verdadeiro evangelizador, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito Homem. O Filho de Deus veio a esta terra para expiar e resgatar o maior dos pecados, o pecado por excelência. E este que é o pecado por excelência da humanidade consiste na recusa de adorar a Deus, na recusa de reservar para Ele o primeiro lugar, o lugar de honra. Este pecado dos homens consiste no facto de não se prestar atenção a Deus, no facto de já não se ter o sentido das coisas, isto é, daqueles detalhes que têm a ver com Deus e com a adoração que Lhe é devida, no facto de não se querer ver Deus, no facto de não se querer ajoelhar diante de Deus.

Perante tal atitude, a Encarnação é algo de incomodo, como igualmente incomoda é, por consequência, a presença real de Deus no mistério eucarístico, e incômoda, a centralidade da presença eucarística de Deus dentro das igrejas. A verdade é que o homem pecador se quer pôr a ele próprio no centro, e tanto no interior da igreja como durante a própria celebração eucarística; ele quer ser visto, quer ser notado.

É por essa razão que a Jesus eucaristia, Deus encarnado presente no sacrário sob a forma eucarística, muitos preferem colocá-Lo de lado dentro do espaço da igreja. É incomoda até mesmo a representação do Crucificado ao centro do altar durante a celebração eucarística feita face ao povo é incomoda, porque o rosto do sacerdote acabaria por ficar tapado. E assim, é incômodo ter ao centro do altar tanto a imagem do Crucificado como Jesus eucaristia no sacrário. A consequência é que a cruz e o sacrário são deslocados para o lado. Durante a celebração, é preciso que quem assiste possa observar continuamente a cara do padre, e este sente prazer em se colocar literalmente no centro da casa de Deus. E se, ainda assim, acontecer por acaso que Jesus eucaristia seja deixado ao centro do altar, porque o Ministério dos Monumentos Históricos, mesmo em regimes ateus, proibiu que se o deslocasse por razões ligadas à conservação do patrimônio artístico, mesmo então, é frequente que durante toda a celebração o sacerdote lhe vire as costas sem escrúpulos.

Quantas não serão as vezes em que os bravos fiéis adoradores de Cristo, na sua simplicidade e humildade, terão já exclamado: «Benditos sejais vós, Monumentos Históricos! Pelo menos, deixastes-nos Jesus no centro da nossa igreja.»


II – A missa para dar glória a Deus e não aos homens

Só a partir da adoração e da glorificação de Deus é que a Igreja pode anunciar de maneira adequada a palavra de verdade, isto é, evangelizar. Antes que o mundo tivesse podido escutar Jesus, o Verbo eterno feito carne, pregar e anunciar o reino, Jesus calou-se e adorou durante trinta anos. É essa para sempre a lei para a vida e para a acção da Igreja, e é também a lei de todos os evangelizadores. «É na maneira de tratar a liturgia que se decide a sorte da Fé e da Igreja», disse o Cardeal Ratzinger, nosso actual Santo Padre, o Papa Bento XVI. O Concílio Vaticano II queria precisamente lembrar à Igreja qual a realidade e o acto que devem ocupar o primeiro lugar na sua vida. É justamente por isso que o primeiro documento conciliar foi consagrado à liturgia. Quanto a isto o concílio dá-nos os seguintes princípios: na Igreja, e por isso mesmo, na liturgia, o humano deve orientar-se pelo divino e estar-lhe subordinado, tal como o visível relativamente ao invisível, a acção à contemplação, e o presente à cidade futura a que aspiramos (cf. Sacrosanctum Concilium, 2). A nossa liturgia terrestre participa, como o diz o ensinamento de Vaticano II, de um pré-saborear da liturgia celeste da cidade santa de Jerusalém (cf. idem, 2).

Por isso, tudo na liturgia da Santa Missa deverá servir para se exprimir de maneira mais clara a realidade do sacrifício de Cristo, isto é, as orações de adoração, agradecimento, expiação e súplica, que o Sumo Sacerdote eterno apresentou a Seu Pai.

O rito e todos os detalhes do Santo Sacrifício da missa devem girar sobre o eixo da glorificação e da adoração de Deus, insistindo sobre a centralidade da presença de Cristo, seja isto no sinal e na representação do Crucificado, ou na Sua presença eucarística no sacrário, e sobretudo no momento da consagração e da sagrada comunhão. Mais se respeita isto e menos o homem estará no centro da celebração, menos a celebração se assemelhará a um círculo fechado, antes se abrindo, e também de modo exterior, a Cristo, qual procissão que se dirige a Ele com o sacerdote à frente; quanto mais uma tal celebração litúrgica vier a reflectir de maneira verdadeira o sacrifício de adoração de Cristo na cruz, mais ricos serão os frutos que os participantes receberão na própria alma, vindos da glorificação de Deus, e mais Deus os honrará.

Quanto mais, durante as celebrações eucarísticas, os fiéis procurarem em verdade a glória de Deus e não a glória dos homens, nem procurarem receber a glória uns dos outros, mais Deus os honrará, deixando que a sua alma participe mais intensamente da Glória e da Honra da Sua vida divina.

Nos dias de hoje e em vários lugares da terra, são numerosas as celebrações da Santa Missa a propósito das quais se poderiam dizer as seguintes palavras, invertendo as palavras do Salmo 113, versículo 9: «A nós, Senhor, e ao nosso nome a glória». Mais ainda: também a essas celebrações litúrgicas se poderiam aplicar estas palavras de Jesus: «Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?» (Jo 5, 44).

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Continua no próximo post...

SANTA MISSA NA FORMA EXTRAORDINÁRIA DO RITO ROMANO EM MACEIÓ-AL

   CONVITE

Caríssimos irmãos,


O Rev. Pe. Erico Falcão tem travado uma verdadeira luta em nossa diocese modernista e extremamente disprovida de espiritualidade, mas ele tem continuado e, com o auxilio da Grande Mãe de Deus, vencido.


Rev. Pe Erico Falcão oferecendo o Santo Sacrificio na igreja de S. Benedito
na forma Extraordinária do Rito Romano


      Mas esta riqueza da santa Igreja precisa urgentemente ser conhecida pelo povo, que em sua grande maioria acha que a Santa Missa se resume aos pseudos shows carismáticos ou cultos inculturados que assolam nossos altares, apesar de que temos uns pouquíssimos padres que rezam o rito ordinário com zelo e fidelidade as rubricas (que a Mão de Deus os guardem).
        Assim fazemos um convite a todos para TODOS os domingos vir assistir o Santo Sacrifício da Missa na forma Extraordinária do Rito Romano na Igreja de S. Benedito no centro de Maceió as hs e também divulguem para muitos outros possam também beber desta fonte.

        Ave Maria Immaculata

"POR TODOS OU POR MUITOS?"

 

"A Santa Sé decidiu que na nova tradução do Missal as palavras 'pro multis' devem ser traduzidas enquanto tais e não, ao mesmo tempo, serem interpretadas. A simples tradução 'por muitos' deve substituir o interpretativo 'por todos'. "

Papa Bento XVI

 

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Carta de Bento XVI à Conferência Episcopal Alemã a respeito do “Pro Multis”: “O respeito pela palavra de Jesus é a razão para a formulação da oração”.

Excelência! Venerável, caro senhor Arcebispo!

Durante a sua visita de 15 de março de 2012, o senhor me fez saber que, com relação às palavras “pro multis” no canon da Missa, ainda não existe um consenso entre os bispos de língua alemã. Agora parece existir o perigo de que, com o próximo e esperado lançamento do “Gotteslob” ["Livro de Orações"], alguns locais de língua alemã mantenham a tradução “por todos”, ainda que a Conferência dos Bispos tenha concordado em usar o “por muitos”, como é desejo da Santa Sé. Eu tinha lhe prometido que me pronunciaria por escrito sobre esta séria questão para evitar uma divisão no nosso mais íntimo local de oração. A carta, que eu envio através do senhor aos membros da Conferência Episcopal Alemã, também será enviada aos outros bispos de língua alemã.

Permita-me primeiro dizer algumas palavras acerca da origem do problema. Nos anos 60, quando o Missal Romano foi traduzido para o alemão sob a responsabilidade dos bispos, houve um consenso exegético de que as palavras “muitos” e “muito” encontradas em Is. 53, 11 em diante, era uma expressão hebraica que indicaria a comunidade, o “todos”. A palavra “muitos” na narração de Mateus e de Marcos também foi considerada um semitismo a ser traduzido como “todos”. Isto também tinha relação direta com o texto latino que seria traduzido, em que o “pro multis” nas narrações do Evangelho se referiam a Isaías 53 e deviam, portanto, ser traduzido como “por todos”. Este consenso exegético se esfacelou; ele não mais existe. Na tradução alemã da Sagrada Escritura, a narração da Última Ceia diz: “Este é meu Sangue, o Sangue da Aliança, que é derramado por muitos” (Marcos 14, 24, cf. Mateus 26, 28). Isto indica algo muito importante: a exposição do “pro multis” como “por todos” não foi uma tradução pura, senão uma interpretação que foi e continua sendo razoável, mas já é mais que tradução e interpretação.

Esta mistura de tradução e de interpretação pertence, em retrospecto, aos princípios que, imediatamente após o Concílio, nortearam a tradução dos livros litúrgicos para o vernáculo. Entendeu-se quão longe a Bíblia e os textos litúrgicos estavam ausentes da linguagem e do pensamento do homem moderno, de modo que mesmo traduzidos eles permaneceriam largamente incompreensíveis aos participantes do culto divino. Houve um novo empenho para que os textos sagrados fossem revelados, nas traduções, aos participantes da celebração, mas ainda assim eles permaneceriam alijados de seu mundo, e agora sim seriam ainda mais visíveis nesse alijamento. Sentiam-se não somente justificados, mas mesmo obrigados a misturar a interpretação na tradução para que, desse modo, se encurtasse o caminho para o povo, cujas mentes e corações poderiam ser alcançados através dessas palavras.

Até certo ponto, o princípio de uma substantiva, mas não necessariamente justificada tradução literal dos textos-fontes permanece. Quando eu rezo as orações litúrgicas em várias línguas, noto que é frequentemente difícil encontrar um meio termo entre as várias traduções e que o texto base subjacente muitas vezes permanece visível somente quando visto de longe. Além disso, somam-se as debilitantes banalizações que são verdadeiras perdas. Por causa disso, através dos anos, ficou cada vez mais claro para mim que o princípio da equivalência estrutural, mas não literal, enquanto regra de tradução, tem seus limites. Seguindo tais raciocínios, a instrução de tradução Liturgiam authenticam, publicada pela Congregação para a Doutrina da Fé no dia 28 de março de 2001, mais uma vez colocou a tradução literal em destaque, mas, é claro, sem impor um único vocabulário. A importante idéia que se encontra na base dessa instrução já se encontra expressa na distinção entre tradução e interpretação, como escrevi acima. Isto é necessário tanto para a Palavra das Escrituras quanto para os textos litúrgicos. Por um lado, a Palavra sagrada deveria, se possível, apresentar-se a si mesma, mesmo com a estranheza e perguntas que ela contém em si; por outro lado, à Igreja foi dada a missão de interpretar, dentro dos limites do nosso entendimento, a Boa Nova que o Senhor quis que recebêssemos. Uma tradução empática também não pode substituir a interpretação: faz parte da estrutura da Revelação que a Palavra de Deus seja lida na comunidade interpretativa da Igreja, que a fidelidade e a compreensão sejam combinadas. A Palavra deve existir como ela mesma, em sua própria forma, ainda que estranha; a interpretação deve ser medida pela fidelidade à própria Palavra, mas, ao mesmo tempo, ser acessível ao ouvido moderno.

Neste contexto, a Santa Sé decidiu que na nova tradução do Missal as palavras “pro multis” devem ser traduzidas enquanto tais e não, ao mesmo tempo, serem interpretadas. A simples tradução “por muitos” deve substituir o interpretativo “por todos”. Gostaria de destacar que tanto em Mateus como em Marcos não há artigo, de modo que não é “pelos muitos”, mas “por muitos”. Tendo entendido, como espero, a decisão fundamental sobre a ordenação da tradução e da interpretação, compreendo que isso represente um enorme desafio para todos os que têm a missão de interpretar a Palavra de Deus na Igreja. Sendo que, para os fiéis regulares, isso parecerá, quase inevitavelmente, uma ruptura no coração daquilo que é mais sagrado. Perguntarão: Cristo não morreu por todos? A Igreja mudou seu ensinamento? Isso é possível e permitido? Esta é uma reação contra a herança do Concílio? Todos sabemos, pela experiência dos últimos 50 anos, quão profundamente as mudanças nas formas e textos litúrgicos afetam as pessoas; quanto uma mudança num texto tão central afeta as pessoas. Embora este seja o caso, há muito se defendeu que a tradução de “muitos” fosse precedida por uma profunda catequese sobre a diferença entre tradução e interpretação, uma catequese na qual os bispos devem informar seus padres que, por sua vez, devem explicar de forma clara para os fiéis do que se trata a questão. Esta catequese é um pré-requisito básico antes que a nova tradução entre em vigor. Até onde eu saiba, uma tal catequese ainda não foi dada nas localidades de língua alemã. A intenção da minha carta, caros irmãos, é de pedir urgentemente que uma tal catequese seja estabelecida, para que então seja discutida com os padres e seja imediatamente disponibilizada aos fiéis.

Tal catequese deve primeiramente explicar porque, depois do Concílio, a palavra “muitos” foi traduzida por “todos” no Missal: para claramente expressar a universalidade da salvação desejada por e advinda de Jesus. Isso leva à seguinte pergunta: se Jesus morreu por todos, por que as palavras da Última Ceia dizem “por muitos”? Além disso, Jesus, de acordo com Mateus e Marcos, disse “por muitos”, mas de acordo com Lucas e são Paulo, disse “por vós”. Tal fato estreita ainda mais a questão. Mas, a partir daqui, também podemos chegar a uma solução. Os discípulos sabem que a missão de Jesus os transcende e ao grupo dos apóstolos; que Ele veio para reunir todos os filhos de Deus dispersos (conforme Jo 11, 52). Este “por vós” torna a missão de Jesus bastante concreta para os presentes: eles não são algum elemento anônimo de alguma vasta totalidade, mas todos sabem que o Senhor morreu particularmente por mim, por nós. “Por vós” alcança o passado e o futuro; eu fui nomeado muito pessoalmente; nós, que aqui estamos, somos conhecidos [pessoalmente] por Jesus. Nesse sentido, “por vós” não é uma constrição, mas uma especificação que é válida para cada comunidade que celebra a Eucaristia, que une a si mesma ao amor de Cristo. Nas palavras da consagração, o Canon Romano uniu as duas leituras bíblicas e lê: “por vós e por muitos”. Na reforma litúrgica, esta fórmula foi levada a todas as orações.

Mas, novamente: por que “por muitos”? O Senhor não morreu então por todos? O fato de Jesus Cristo, enquanto Filho de Deus encarnado, ser o Homem para todos os homens, o novo Adão, pertence às certezas básicas da nossa fé. Gostaria de lembrá-los de somente três passagens das Escrituras: Deus deu Seu Filho “por todos nós”, Paulo escreve na Carta aos Romanos (Rom, 8, 32). “Um só morreu por todos”, São Paulo diz na Segunda Carta aos Coríntios, sobre a morte de Jesus (1Cor 5, 14). Jesus “Se deu em resgate por todos”, diz a 1ª Carta a Timóteo (1Tim 2, 6). Mas então podemos nos perguntar novamente: quando tudo isso é tão claro, por que então a Oração Eucarística diz “por muitos”? Bem, a Igreja tomou esta formulação da narrativa da instituição do Novo Testamento. Ela assim o faz por respeito à Palavra de Jesus, para permanecer fiel a Ele também na Palavra. O respeito pela palavra de Jesus é a razão para a formulação da oração. Mas então perguntamos: por que o próprio Jesus falou isso? O verdadeiro motivo para isso é que Jesus, dessa forma, Se revelou como o servo de Deus de Is. 53, Se identificou como a forma que a palavra do profeta esperava. Respeito da Igreja pela Palavra de Jesus, fidelidade a Jesus Palavra das Escrituras: nesta dupla fidelidade se encontra a base sólida para a fórmula “por muitos”. É nesta cadeia de reverente fidelidade que encontramos a tradução literal da Palavra das Escrituras.

Como dissemos anteriormente, o “por vós” na tradição Luca-Paulina não constringe, senão especifica, de modo que podemos afirmar que a dialética de “muitos”- “todos” tem seu próprio significado. “Todos” existe num nível ontológico – o ser e a ação de Jesus inclui toda a humanidade, passada, presente e futura. Mas, de fato, na comunidade concreta daqueles que celebram a Eucaristia, isso envolve somente “muitos”. Deste modo, podemos ver um significado triplo no ordenamento de “muitos” e de “todos”. Em primeiro lugar, deveria significar para nós, que podemos sentar à Sua mesa, surpresa, alegria e gratidão pelo fato d’Ele ter nos chamado, de estarmos com Ele e de podermos conhecê-Lo. “Graças ao Senhor, que por misericórdia me chamou à Sua Igreja …”. Em segundo lugar, é também uma responsabilidade. Como o Senhor alcança os outros – “todos” – a Seu próprio modo permanece um mistério. Mas, sem dúvida, é uma responsabilidade ser chamado para Ele e para Sua mesa, de modo que eu possa ouvir: por vós, por mim Ele sofreu. Os muitos carregam a responsabilidade por todos. A comunidade dos muitos deve ser a luz das velas, a cidade nas montanhas, fermento para todos. É um chamado que se aplica a todos pessoalmente. Os muitos, que somos nós, devem conscientemente praticar sua missão em responsabilidade pela totalidade. Finalmente, podemos adicionar um terceiro aspecto. Na sociedade moderna, temos a impressão que estamos longe de ser “muitos”, senão bem poucos – um pequeno número que continuamente diminui. Mas não – nós somos “muitos”: “Depois disso, eis que vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” nos diz o Apocalipse de João (Ap 7, 9). Somos muitos e representamos todos. Dessa maneira ambas as palavras, “muitos” e “todos” devem ficar juntas e se relacionam entre si na responsabilidade e na promessa.

Excelência, amados irmãos bispos! Com o que escrevi acima, desejei indicar o conteúdo básico da catequese que deve preparar, o quanto antes, padres e leigos, para a nova tradução. Espero que tudo isso possa servir para uma celebração mais profunda da Eucaristia e se torne parte de uma grande missão que se nos desvela no “Ano da Fé”. Espero que esta catequese seja logo apresentada para que se torne parte de uma renovação litúrgica pela qual o Concílio trabalhou desde sua primeira sessão.

Com minhas bênçãos Pascais, permaneço no Senhor,
Benedictus PP XVI



Fonte: Frater in Unum

Nota Pastoral "Mais uma vez a questão do aborto"

Nota Pastoral "Mais uma vez a questão do aborto"

DOM ANTONIO CARLOS ROSSI KELLER
PELA GRAÇA DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
BISPO DE FREDERICO WESTPHALEN (RS)

Nota Pastoral
“Mais uma vez a questão do aborto”

“Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo, será chamado o menor no Reino dos Céus. Aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos Céus.” (São Mateus 5,19)

Caros Diocesanos de Frederico Westphalen, irmãos e irmãs que compreendem o valor da vida humana.
 
Mais uma vez o Bispo Diocesano sente-se no dever, derivado de seu Ministério Episcopal, de vir a público e manifestar-se em relação ao tema do aborto. Mais especificamente, às veladas e covardes ações levadas a cabo por autoridades, que deveriam zelar pela defesa da vida, mas que “na calada da noite” estão empenhadas em implantar a prática do aborto em nossa Pátria, passando por cima da vontade da grande maioria da população que é contrária a esta prática.
 
Poucos dias atrás, os jornais “Folha de São Paulo”, “O Estado de São Paulo” e “Correio Brasiliense”, traziam, em suas primeiras páginas, notícias de ações que visam, na prática a implantação do aborto no país.
 
Somente a título de exemplo, para justificar esta preocupação em relação à introdução velada da prática do aborto, cito, em primeiro lugar “A Folha de São Paulo”. Em reportagem de capa afirmava que, segundo o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães: O SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO PASSARÁ A ACOLHER AS MULHERES QUE DESEJAM FAZER ABORTO E ORIENTÁ-LAS SOBRE COMO USAR CORRETAMENTE OS MÉTODOS EXISTENTES PARA ABORTAR. CENTROS DE ACONSELHAMENTO INDICARÃO QUAIS SÃO, EM CADA CASO, OS MÉTODOS ABORTIVOS MAIS SEGUROS DO QUE OUTROS.
 
A Folha afirmava ainda que o modelo será copiado do Uruguai, que o adota desde o ano de 2004.
 
A PROPOSTA, diz a FOLHA, FOI ABORDADA NA ÚLTIMA SEMANA DE MAIO PELA MINISTRA ELEONORA MENICUCCI, QUE AFIRMOU 'SOMENTE SER CRIME PRATICAR O PRÓPRIO ABORTO, MAS QUE O GOVERNO ENTENDE QUE NÃO É CRIME ORIENTAR UMA MULHER SOBRE COMO PRATICAR O ABORTO'.
 
Depois de orientada sobre como praticar o aborto, uma vez consumado o delito, a mulher passaria por uma nova consulta para evitar maiores conseqüências pós aborto. Ainda segundo a Folha, PARA OS QUE DESENVOLVERAM A POLÍTICA, ELA NÃO SÓ É UMA ATITUDE LEGAL, COMO É ÉTICA E DE DIREITO HUMANO BÁSICO.
 
É preciso recordar que a matéria veiculada pela “Folha de São Paulo” traz dados inverídicos em relação aos números do aborto do Brasil. A “Folha” acolhe os números do governo, que afirma que há mais de um milhão de abortos por ano, no Brasil. Os números reais são bem outros. Hoje, no Brasil, acontecem cerca de cem mil abortos por ano, e este número está diminuindo pouco a pouco. Isto é o que pode se concluir dos próprios dados do Ministério da Saúde, que mostram que o número de internações por aborto no Brasil, nos últimos quatro anos, está diminuindo à taxa de 12% ao ano, todos os anos. Na matéria veiculada pelo jornal paulistano, não são apresentados os números reais, por exemplo, das internações por razões de aborto. Ao afirmar que são cerca de duzentas mil as internações por causa do aborto, o jornal não leva em consideração que destas duzentas mil, cerca de cinquenta mil são por causa do aborto provocado. As outras cento e cinquenta mil são devidas ao aborto espontâneo. Ou seja, há um propósito do governo, secundado pela “Folha de São Paulo” em inflar os números do aborto...
 
Há uma “Pesquisa Nacional do Aborto”, levada a cabo pela Universidade de Brasília em conjunto com a ANIS, que revela números mais reais: No Brasil, de cada duas mulheres que provocam o aborto, uma é internada. Portanto, se há cinquenta mil internações por ano por aborto provocado, isto significa que são realizados cem mil abortos por ano e não o milhão e meio de abortos provocados, números estes anunciados pelas autoridades.
 
A realidade mostra não só que os números dos que são contrários ao aborto, entre a população brasileira, estão aumentando. Mas que também as brasileiras estão abortando cada vez menos, no Brasil. Esta é a realidade dos números.
 
A Matéria de “O Estado de São Paulo”, por sua vez, trata da elaboração, por parte do Ministério da Saúde e de um “grupo de especialistas” de uma “cartilha” que tem como finalidade orientar as mulheres que desejam abortar. “A INTENÇÃO É FECHARMOS O MATERIAL DE ORIENTAÇÃO EM, NO MÁXIMO, UM MÊS", AFIRMOU O COORDENADOR DO GRUPO DE ESTUDOS SOBRE O ABORTO DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC), THOMAZ GOLLOP. O FORMATO FINAL DO PROGRAMA SERÁ DEFINIDO PELO MINISTÉRIO. A CARTILHA CONTERIA, POR EXEMPLO, INFORMAÇÕES PARA MULHER ESCOLHER O LUGAR DO PROCEDIMENTO".
 
Já o “Correio Brasiliense” noticiava que ao longo do mês de junho uma comissão de trabalho se reunirá com os técnicos do Ministério da Saúde para formular uma norma técnica que servirá de base para um programa de aconselhamento para mulheres com gravidez indesejada. Além disso, o Correio informa que o Ministério da Saúde tem a intenção de liberar a venda de remédios abortivos, hoje de uso reservado à rede hospitalar. Desta maneira, os médicos poderão orientar as mulheres sobre como praticar o aborto seguro e os medicamentos necessários estarão nas farmácias amplamente disponíveis para o público.
 
Interessante que no decorrer de poucos dias, aparece como que uma onda gigantesca em setores do atual governo a favor, em última instância, do aborto, veiculada por grandes e importantes jornais do país.
 
Muito mais interessante e importante, seria recordar o compromisso que a atual presidente da República assinou, no dia 16 de outubro de 2010, durante a campanha eleitoral, declarando que: "SOU PESSOALMENTE CONTRA O ABORTO E DEFENDO A MANUTENÇÃO DA LEGISLAÇÃO ATUAL SOBRE O ASSUNTO. ELEITA PRESIDENTE DA REPÚBLICA, NÃO TOMAREI A INICIATIVA DE PROPOR ALTERAÇÕES DE PONTOS QUE TRATEM DA LEGISLAÇÃO DO ABORTO E DE OUTROS TEMAS CONCERNENTES À FAMÍLIA E À LIVRE EXPRESSÃO DE QUALQUER RELIGIÃO NO PAÍS. [...] COM ESTES ESCLARECIMENTOS, ESPERO CONTAR COM VOCÊ PARA DETER A SÓRDIDA CAMPANHA DE CALÚNIAS CONTRA MIM ORQUESTRADA".
 
Assim, apesar de todas as negativas e desculpas, o que se vê, concretamente, é um encaminhamento por baixo dos panos de medidas que visam pura e simplesmente, a prática livre do aborto, já que o grupo que está elaborando, junto com o Ministério da Saúde a nova Norma Técnica que pretende criar em todo o país centros de orientação sobre o aborto, liberalizar a venda de drogas abortivas na rede nacional de farmácias e difundir uma cartilha que ensine as mulheres como e onde praticarem o aborto é exatamente o mesmo Grupo de Estudos sobre o Aborto, coordenado pelo mesmo médico Thomas Gollop, cujo convênio com o Ministério da Saúde estava sendo contratado pelo governo enquanto a atual presidente, na época candidata garantia que jamais promoveria o aborto no Brasil.
 
Ou seja, hoje, em nossa Pátria está acontecendo na prática um verdadeiro ataque que visa obter à revelia da atual legislação e da imensa maioria do povo brasileiro, a pura e simples liberalização do aborto. Há anos nosso país vem sendo alvo destes ataques, já que há muito dinheiro investido por organizações estrangeiras para obter, por razões ideológicas e de cunho geopolítico, a pura e simples liberalização do aborto no Brasil e demais países da América Latina.
 
É preciso reagir a esta sanha abortista, que navega de velas soltas, alimentada por interesses desumanos, e que contraria o desejo da imensa maioria do povo brasileiro. Calar-se, fingir que o problema não existe e desvincular-se de uma ação de reação a esta sanha, é covardia e traição aos princípios mais elementares da fé cristã que professamos.
 
Escrevo esta “Nota Pastoral” ainda sob o efeito da tristeza pelo falecimento de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, Bispo Emérito de Guarulhos (SP), um digno e combativo Bispo da Santa Igreja Católica, que enfrentou com coragem e destemor até mesmo perseguições e calúnias, por sua intransigente defesa da vida.
 
Há dias, do leito do hospital, Dom Bergonzini escrevia: “Se Ele determinar que eu continue por aqui, todos daremos as mãos e seguraremos nas mãos de Deus para, juntos, combatermos as iniquidades e propagarmos o Evangelho por todos os telhados... e por todos os meios existentes”.
 
Deus determinou outra coisa, e este seu servo certamente já goza da visão beatífica. Sua dedicação em defesa da vida deve servir-nos de alento neste combate exigente.
 
Sabedores de que o aborto é um pecado gravíssimo contra Deus e contra a humanidade, venho apresentar algumas indicações práticas, no sentido de que se busque reagir contra esta imposição por parte das autoridades que deveriam cuidar e promover a vida. É preciso frear estes ataques à vida humana. Tais indicações são oferecidas pela Comissão de Defesa da Vida, do regional Sul 1 da CNBB (São Paulo) e enquadram-se no direito que todos nós, católicos temos, como cidadãos deste país, em nos manifestar.
 
 1. Telefonar, enviar fax e mensagens ao Ministério da Saúde e à Casa Civil da Presidência, mostrando com clareza, ao Ministério da Saúde e à Casa Civil da Presidência que o povo brasileiro compreende exatamente o que nosso governo está fazendo e não está de acordo com a implantação do aborto no país.
 
2. Pedir em seguida (e isto é importante, já que são aqueles que estão à frente destas ações de violência à vida):
 
(A) A DEMISSÃO IMEDIATA DA MINISTRA ELEONORA MENICUCCI DA SECRETARIA DAS MULHERES.
 
(B) A DEMISSÃO IMEDIATA DO SECRETÁRIO DE ATENÇÃO À SAÚDE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, HELVÉCIO MAGALHÃES.
 
(C) O ROMPIMENTO IMEDIATO DOS CONVÊNIOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE COM O GRUPO DE ESTUDO E PESQUISA SOBRE O ABORTO NO BRASIL.
 
Os contatos para estas manifestações são os seguintes:
 
- CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA: GLEISI HELENA HOFFMANN, MINISTRA-CHEFE DA CASA CIVIL
TELEFONES: (61) 3411-1573, 3411-1935, 3411-5866, 3411-1034
FAX: (61) 3321-1461, 3322-3850
 
- MINISTÉRIO DA SAÚDE: ALEXANDRE PADILHA , MINISTRO DA SAÚDE
TELEFONES: (61) 3315-2392, (61)3315-2393, (61) 3315-2788, (61) 3315-9260, (61) 3315-9262
FAXES: (61) 3224-8747, (61) 3315-2680, (61) 3315-2816
 
- SECRETÁRIO DE ATENÇÃO À SAÚDE: HELVÉCIO MIRANDA MAGALHÃES
TELEFONES: (61) 3315-2626 3315-2133
FAX: (61) 3225-0054
 

Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, abençoe nossa Pátria e nos livre da praga do Aborto.

Frederico Westphalen, 13 de junho de 2012.
Festa Litúrgica de Santo Antonio
Padroeiro da Catedral Diocesana

+ Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen