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segunda-feira, 18 de junho de 2012

MONS. SCHNEIDER E A LITURGIA:HORIZONTES PARA O 3º MILÉNIO


MONS. SCHNEIDER E A LITURGIA:
 HORIZONTES PARA O 3º MILÊNIO

Caros irmãos,

A excelente Pax Liturgique publicou em sua carta 27 um grande texto de D. Athanasius Schneider que trazemos a baixo e postaremos em duas partes para que os irmãos possam ler-lo calmamente e retirar destas reflexões lições para nosso apostolado em favor da Sagrada Liturgia.

Ave Maria Immaculata.


Dom Athanasius Shneider

"Quanto mais, durante as celebrações eucarísticas, os fiéis procurarem em verdade a glória de Deus e não a glória dos homens, nem procurarem receber a glória uns dos outros, mais Deus os honrará, deixando que a sua alma participe mais intensamente da Glória e da Honra da Sua vida divina."
D. Athanasius Schneider
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Parte 01

A 15 de Janeiro de 2012, a associação parisiense “Réunicatho”, nascida logo após o Motu proprio Summorum pontificum, organizou o seu 4º encontro para a unidade católica. Reproduzimos a seguir, na íntegra, o texto da intervenção do convidado de honra desta jornada, o Mons. Athanasius Schneider (1), sobre o tema “A Forma Extraordinária e a Nova Evangelização”.


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(os títulos são da redação)

I – Voltar o nosso olhar para Cristo

Para se falar corretamente sobre a nova evangelização, é indispensável que, antes de mais, voltemos o nosso olhar para Aquele que é o verdadeiro evangelizador, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito Homem. O Filho de Deus veio a esta terra para expiar e resgatar o maior dos pecados, o pecado por excelência. E este que é o pecado por excelência da humanidade consiste na recusa de adorar a Deus, na recusa de reservar para Ele o primeiro lugar, o lugar de honra. Este pecado dos homens consiste no facto de não se prestar atenção a Deus, no facto de já não se ter o sentido das coisas, isto é, daqueles detalhes que têm a ver com Deus e com a adoração que Lhe é devida, no facto de não se querer ver Deus, no facto de não se querer ajoelhar diante de Deus.

Perante tal atitude, a Encarnação é algo de incomodo, como igualmente incomoda é, por consequência, a presença real de Deus no mistério eucarístico, e incômoda, a centralidade da presença eucarística de Deus dentro das igrejas. A verdade é que o homem pecador se quer pôr a ele próprio no centro, e tanto no interior da igreja como durante a própria celebração eucarística; ele quer ser visto, quer ser notado.

É por essa razão que a Jesus eucaristia, Deus encarnado presente no sacrário sob a forma eucarística, muitos preferem colocá-Lo de lado dentro do espaço da igreja. É incomoda até mesmo a representação do Crucificado ao centro do altar durante a celebração eucarística feita face ao povo é incomoda, porque o rosto do sacerdote acabaria por ficar tapado. E assim, é incômodo ter ao centro do altar tanto a imagem do Crucificado como Jesus eucaristia no sacrário. A consequência é que a cruz e o sacrário são deslocados para o lado. Durante a celebração, é preciso que quem assiste possa observar continuamente a cara do padre, e este sente prazer em se colocar literalmente no centro da casa de Deus. E se, ainda assim, acontecer por acaso que Jesus eucaristia seja deixado ao centro do altar, porque o Ministério dos Monumentos Históricos, mesmo em regimes ateus, proibiu que se o deslocasse por razões ligadas à conservação do patrimônio artístico, mesmo então, é frequente que durante toda a celebração o sacerdote lhe vire as costas sem escrúpulos.

Quantas não serão as vezes em que os bravos fiéis adoradores de Cristo, na sua simplicidade e humildade, terão já exclamado: «Benditos sejais vós, Monumentos Históricos! Pelo menos, deixastes-nos Jesus no centro da nossa igreja.»


II – A missa para dar glória a Deus e não aos homens

Só a partir da adoração e da glorificação de Deus é que a Igreja pode anunciar de maneira adequada a palavra de verdade, isto é, evangelizar. Antes que o mundo tivesse podido escutar Jesus, o Verbo eterno feito carne, pregar e anunciar o reino, Jesus calou-se e adorou durante trinta anos. É essa para sempre a lei para a vida e para a acção da Igreja, e é também a lei de todos os evangelizadores. «É na maneira de tratar a liturgia que se decide a sorte da Fé e da Igreja», disse o Cardeal Ratzinger, nosso actual Santo Padre, o Papa Bento XVI. O Concílio Vaticano II queria precisamente lembrar à Igreja qual a realidade e o acto que devem ocupar o primeiro lugar na sua vida. É justamente por isso que o primeiro documento conciliar foi consagrado à liturgia. Quanto a isto o concílio dá-nos os seguintes princípios: na Igreja, e por isso mesmo, na liturgia, o humano deve orientar-se pelo divino e estar-lhe subordinado, tal como o visível relativamente ao invisível, a acção à contemplação, e o presente à cidade futura a que aspiramos (cf. Sacrosanctum Concilium, 2). A nossa liturgia terrestre participa, como o diz o ensinamento de Vaticano II, de um pré-saborear da liturgia celeste da cidade santa de Jerusalém (cf. idem, 2).

Por isso, tudo na liturgia da Santa Missa deverá servir para se exprimir de maneira mais clara a realidade do sacrifício de Cristo, isto é, as orações de adoração, agradecimento, expiação e súplica, que o Sumo Sacerdote eterno apresentou a Seu Pai.

O rito e todos os detalhes do Santo Sacrifício da missa devem girar sobre o eixo da glorificação e da adoração de Deus, insistindo sobre a centralidade da presença de Cristo, seja isto no sinal e na representação do Crucificado, ou na Sua presença eucarística no sacrário, e sobretudo no momento da consagração e da sagrada comunhão. Mais se respeita isto e menos o homem estará no centro da celebração, menos a celebração se assemelhará a um círculo fechado, antes se abrindo, e também de modo exterior, a Cristo, qual procissão que se dirige a Ele com o sacerdote à frente; quanto mais uma tal celebração litúrgica vier a reflectir de maneira verdadeira o sacrifício de adoração de Cristo na cruz, mais ricos serão os frutos que os participantes receberão na própria alma, vindos da glorificação de Deus, e mais Deus os honrará.

Quanto mais, durante as celebrações eucarísticas, os fiéis procurarem em verdade a glória de Deus e não a glória dos homens, nem procurarem receber a glória uns dos outros, mais Deus os honrará, deixando que a sua alma participe mais intensamente da Glória e da Honra da Sua vida divina.

Nos dias de hoje e em vários lugares da terra, são numerosas as celebrações da Santa Missa a propósito das quais se poderiam dizer as seguintes palavras, invertendo as palavras do Salmo 113, versículo 9: «A nós, Senhor, e ao nosso nome a glória». Mais ainda: também a essas celebrações litúrgicas se poderiam aplicar estas palavras de Jesus: «Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?» (Jo 5, 44).

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Continua no próximo post...

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