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quinta-feira, 31 de março de 2011

MUSICA LITURGICA - CANTAR O ORDINÁRIO DA SANTA MISSA "Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth"

Pax et Bonum,
Caríssimos irmãos, estamos trazendo um texto retirado do SALVEM A LITURGIA, que realmente transmite um grande problema que vivemos em nossas comunidades nas celebrações das Santas Missas e como grande parte das pessoas que hoje estão envolvida no canto/musica litúrgica estão extremamente alheias a verdadeira função que devem cumprir dentro da liturgia. A principio, queremos esclarecer que o grupo de cantores não são “animadores” da Santa Missa, temos que terminantemente abolir esta expressão. Só se “anima” o que estar morto, já que a palavra latina “anima” quer dizer alma, basta lembrar, na área médica quando estes profissionais “reanimam” aqueles que estão “sem vida” ou por perdê-la. A Santa Missa é que nos anima, pois foi Nela que Nosso Senhor nos garantiu a vida, e Vida Eterna.
Pois bem, sabemos que em grande parte dos grupos que cometem tais erros, e até piores, é porque recebeu péssimas formações ou não receberam formação alguma, já que alem da reforma litúrgica ter chegado as pressas, sem preparação alguma, ainda tivemos a infeliz experiência com a liturgia da teologia da libertação que praticamente tomou para si e monopolizou as celebrações nas décadas de 70, 80 e parte de 90 depois dividiu o espaço com a renovação carismática, então o povo entendeu que isso que ocorria era a única verdade e que só era escolher que “liturgia” melhor se adaptava ao “meu achismo” e pronto. Assim o povo não tem tanta culpa, agora nos cabe correr atrás do tempo e apresentar para as comunidades a Liturgia da Santa Igreja e assim professarmos com nossa oração a fé que recebemos dos Apóstolos.
Como dissemos no inicio deixaremos aqui um belo texto sobre o canto do Sanctus na Santa Missa.
Que a Grande Mãe de Deus lhes garanta uma leitura orante destas palavras para que tudo seja para maior gloria de Deus.

Ave Maria Immaculata.

Postado por Alfredo Votta

O Sanctus, quarta parte do Ordinário da Missa, precedido pelo Kyrie, pelo Gloria e pelo Credo, apresenta o simbolismo do número 3 ao proclamar “Santo, Santo, Santo”. Mais uma vez, a Liturgia tem a Escritura como principal fonte, e falo especificamente do livro do santo profeta Isaías, capítulo 6, versículo 3:

Bíblia Ave Maria - 3. Suas vozes se revezavam e diziam: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória!

Bíblia da CNBB - 3. Exclamavam um para o outro: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos exércitos, a terra inteira está repleta de sua glória.”

Vulgata - 3. et clamabant alter ad alterum et dicebant sanctus sanctus sanctus Dominus exercituum plena est omnis terra gloria ejus

Neo Vulgata - 3. Et clamabat alter ad alterum et dicebat: “Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus exercituum; plena est omnis terra gloria eius”.

O leitor poderá perceber que, destas quatro traduções, três escolheram a palavra “exércitos”, inclusive as traduções para o latim; lembremo-nos de que o original é hebraico. Uma delas escolheu a palavra “universo”, a mesma da tradução oficial, para o português, do texto litúrgico. A versão latina da Liturgia não fala em exércitos; mantém, sim, a palavra “Sabaoth”, do texto original hebraico, uma espécie de sugestão da impossibilidade de traduzi-la adequadamente.

Entretanto, ela realmente significa “exércitos”, e não há dificuldade na tradução. A manutenção de “Sabaoth” se deve ao fato de que “Senhor dos Exércitos” é um hebraísmo que pode acabar sugerindo algo diferente do verdadeiro para a mentalidade não-hebraica. Tais exércitos são os exércitos celestiais, e conservar a palavra hebraica num texto latino transmite melhor a ideia de que não falamos de qualquer exército. O texto litúrgico em português, entretanto, preferiu “Senhor do Universo”.

Uma segunda palavra hebraica faz parte do texto do Sanctus: “Hosana”. Seu significado original é uma súplica por salvação, mas logo se tornou uma aclamação triunfal. Mais uma vez a fonte é a Escritura: Mt 21, 9.

Bíblia Ave Maria - 9. E toda aquela multidão, que o precedia e que o seguia, clamava: Hosana ao filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!

Biblia da CNBB - 9. As multidões na frente e atrás dele clamavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto † dos céus!”

Vulgata - 9. turbæ autem quæ præcedebant et quæ sequebantur clamabant dicentes osanna Filio David benedictus qui venturus est in nomine Domini osanna in altissimis

Neo Vulgata - 9. Turbae autem, quae praecedebant eum et quae sequebantur, clamabant dicentes: “Hosanna filio David! Benedictus, qui venit in nomine Domini! Hosanna in altissimis!”.

Temos, finalmente, o texto litúrgico em português:

Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo.
O céu e a terra proclamam a vossa glória.
Hosana nas alturas.
Bendito o que vem em nome do Senhor.
Hosana nas alturas.

E em latim:

Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth.
Pleni sunt coeli et terra gloria tua.
Hosanna in excelsis.
Benedictus qui venit in nomine Domini.
Hosanna in excelsis.

Infelizmente, mais uma vez somos obrigados a ressaltar o fato de que o texto do Sanctus é exclusivamente o que acabo de citar. O motivo que se apresenta mais uma vez são os constantes abusos dessas palavras na forma de modificações e inserções

Existe no Brasil um conhecido Sanctus em português que, creio poder dizer, todo católico sabe cantar, e é considerado por muitos como “tradicional”, e talvez até “antigo”, na atual cultura de considerar antigas as coisas cuja idade passe de uns trinta ou quarenta anos. É fácil referir-se a esse Sanctus justamente pela inserção indevida feita no texto:

O Senhor é Santo, o Senhor é Santo, o Senhor é Santo
O Senhor é nosso Deus, o Senhor é nosso Pai
Que seu reino de amor se estenda sobre a terra.
O Senhor é Santo, o Senhor é Santo, o Senhor é Santo
Bendito o que vem em nome do Senhor
Bendito o que vem em nome do Senhor
Hosana, Hosana, Hosana.

As repetições que não constam do texto original podem até ser consideradas lícitas, mas não custa lembrar que o canto gregoriano não faz isso nunca. Em todo caso, texto repetido é mais comum na tradição polifônica, e não nas monodias. Especialmente num texto do qual faz parte uma repetição evocadora de um número simbólico, o 3, as repetições de outras partes ou a alteração dessas três aclamações para quatro ou cinco acabam enfraquecendo o simbolismo.

Embora a famosa composição cujo texto é o que citei ali não seja uma monodia gregoriana, é uma melodia única destinada ao canto a uma voz só. De qualquer maneira, realmente incorretas são as adições feitas ao texto.

Desconheço a autoria desta música, e o julgamento nada tem de pessoal, mas ela não deve ser utilizada na Liturgia.

Um caso bem pior, sobre o qual cheguei mesmo a escrever um texto específico aqui no Salvem a Liturgia, é o famoso “Santo dos Anjos”. Dói-me profundamente citar-lhe o texto, mas lamentavelmente terei que fazer isso.

Santo, santo, santo, dizem todos os anjos
Santo, santo, santo, é o Senhor Jesus
Santo, santo, santo, é quem os redime
Porque meu Deus é Santo e a terra cheia de sua glória está
Porque meu Deus é Santo e a terra cheia de sua glória está

Céus e terras passarão, mas Sua Palavra não passará    
Céus e terras passarão, mas Sua Palavra não passará
Não, não, não passará
Não, não, não passará

O texto é tão diferente do litúrgico que talvez pudesse ser registrado para fins de cobrança de direitos autorais. Talvez seja exagerado pensar assim, considerando inclusive que uma das inserções abusivas foi tomada da própria Escritura: céus e terra passarão, mas Sua palavra não passará. E isto aparece quatro vezes no texto; não contente, a letra diz “não” diversas outras vezes, e quero fazer desse “não” um “não” a essa composição absolutamente indigna da Liturgia. A rítmica da música é de algum tipo de dança folclórica brasileira, talvez nordestina, o que deve ser deplorado especialmente pelos devotos nordestinos. O nordeste do Brasil, já alvo de tantas caricaturas, tem sua cultura mais uma vez usada de modo ridículo no contexto mais errado possível, a Santa Missa.

Quase sempre acompanhada de palmas (outro erro inadmissível na Liturgia), esta composição se usa em muitos lugares do Brasil no lugar do Sanctus, a poucos minutos da consagração. Para mim, pessoalmente, é um dos símbolos máximos da decadência litúrgica e ainda, por extensão, da decadência intelectual do Brasil. Não hesito em pedir que seja permanentemente banida na companhia de diversas outras composições inadequadas.

quarta-feira, 16 de março de 2011

"Versus Deum per Iesum Christum" - Voltado para Deus por Jesus Cristo

Pax et Bonum,
 Visitando o site www.padredemetrio.com.br, encontramos um excelente texto sobre a orientação da celebração da Santa Missa e partilhamos com vocês. Divulguem, façam a Sagrada Liturgia realmente conhecida.
Ave Maria Immaculata.

Versus Deum per Iesum Christum

"Para o católico praticante normal, dois parecem ser os resultados mais evidentes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II: o desaparecimento da língua latina e o altar orientado para o povo. Quem ler os textos conciliares poderá constatar, com espanto, que nem uma nem outra coisa se encontram neles desta forma.
Claro, seria preciso dar espaço à língua vulgar, segundo as intenções do Concílio (cf. Sacrosanctum Concilium 36, 2) – sobretudo no âmbito da liturgia da Palavra – mas, no texto conciliar, a norma geral imediatamente precedente reza: “O uso da língua latina, salvo quando se tratar de um direito particular, seja conservado nos ritos latinos” (Sacrosanctum Concilium 36, 1).
Sobre a orientação do altar para o povo, não há sequer uma palavra no texto conciliar. Ela é mencionada em instruções pós-conciliares. A mais importante delas é a Institutio generalis Missalis Romani, a Introdução Geral ao novo Missal Romano, de 1969, onde, no número 262, se lê: “O altar maior deve ser construído separado da parede, de modo a que se possa facilmente andar ao seu redor e celebrar, nele, olhando na direção do povo [versus populum]”. A introdução à nova edição do Missal Romano, de 2002, retomou esse texto à letra, mas, no final, acrescentou o seguinte: “Isso é desejável sempre que possível”. Esse acréscimo foi lido por muitos como um enrijecimento do texto de 1969, no sentido de que agora haveria uma obrigação geral de construir – “sempre que possível” – os altares voltados para o povo. Essa interpretação, porém, já havia sido repelida pela Congregação para o Culto Divino, que tem competência sobre a questão, em 25 de setembro de 2000, quando explicou que a palavra “expedit” [é desejável] não exprime uma obrigação, mas uma recomendação. A orientação física deveria – assim diz a Congregação – ser distinta da espiritual. Quando o sacerdote celebra versus populum, sua orientação espiritual deveria ser sempre versus Deum per Iesum Christum [para Deus, por meio de Jesus Cristo]. Sendo que ritos, sinais, símbolos e palavras nunca podem esgotar a realidade última do mistério da salvação, devem-se evitar posições unilaterais e absolutizantes a respeito dessa questão.
Esse esclarecimento é importante, pois deixa transparecer o caráter relativo das formas simbólicas externas, opondo-se, assim, aos fanatismos que infelizmente nos últimos quarenta anos não tiveram pequena freqüência nos debates em torno da liturgia. Mas, ao mesmo tempo, ilumina também a direção última da ação litúrgica, nunca totalmente expressa nas formas exteriores, e que é a mesma para o sacerdote e para o povo (voltados para o Senhor: para o Pai, por meio de Cristo no Espírito Santo). A resposta da Congregação deveria, portanto, criar um clima menos tenso para a discussão; um clima no qual possam ser procuradas as melhores maneiras de realização prática do mistério da salvação, sem condenações recíprocas, ouvindo atentamente aos outros, mas sobretudo ouvindo as indicações últimas da própria liturgia. Etiquetar apressadamente certas posições como “pré-conciliares”, “reacionárias”, “conservadoras”, ou “progressistas” ou “estranhas à fé”, não deveria mais ser admitido nesse embate, no qual se deveria muito mais deixar espaço a um novo e sincero esforço comum para realizar a vontade de Cristo da melhor forma possível"

O jejum e a abstinência na Lei da Igreja.

Pax et Bonum
Amados Irmãos deixamos aqui as normas da Santa Igreja sobre o jejum e abstinência para ajudar-nos a viver  uma quaresma verdadeiramente católica.
Ave Maria Immaculata.
Post original: http://fratresinunum.com/ 


O jejum e a abstinência na Lei da Igreja.

O Santo Sacrifício
Jejum e abstinência no Novo Código de Direito Canônico de 1983
Os dias e períodos de penitência para a Igreja universal são todas as sextas-feiras de todo o ano e o tempo da Quaresma [Cânon 1250]. A abstinência de carne ou de qualquer outro alimento determinado pela Conferência Episcopal deve ser observada em todas as sextas, exceto nas solenidades. [Cânon 1251].
A abstinência e o jejum devem ser observados na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. [Cânon 1252]. A lei da abstinência vincula a todos que completaram 14 anos. A lei do jejum vincula a todos que chegaram à maioridade, até o início dos 60 anos [Cânon 1252]
Jejum e abstinência tradicionais conforme o Código de Direito Canônico de 1917.
Entre 1917 e o Novo Código de 1983, certos países tinham dias de jejum e abstinência particulares, e.g., os Estados Unidos tinham a vigília da Imaculada Conceição em vez da Assunção como dia de abstinência; dispensas para S. Patrício e São José, etc. Não é possível relacioná-los todos. Publicamos as prescrições do código de 1917, com menção da extensão do jejum e abstinência do Sábado Santo até meia noite que foi ordenada por Pio XII.
Dias de jejum simples:
O jejum consiste numa refeição completa e duas menores, que juntas são menos que uma refeição inteira. Não é permitido comer entre as refeições, mas líquidos podem ser tomados. É permitido comer carne em dia de jejum simples. Os dias de jejum simples são: segundas, terças, quartas e quintas-feiras da Quaresma. [Cânon 1252/3]
Todos eram vinculados à lei do jejum a partir dos 21 até os 60 anos.
Dias de abstinência:
A abstinência consiste em abster-se de comer carne de animais de sangue quente, molhos ou sopa de carne nos dias de abstinência. A abstinência era em todas as sextas-feiras, a não ser que fosse um Dia de Guarda [cânon 1252/4]. A lei da abstinência vinculava a todos que tinham completado 7 anos de idade. [Cânon 1254/1].
Dias de jejum e abstinência:
O jejum e abstinência consistem numa refeição completa e duas refeições menores que juntas são menos que uma refeição inteira. Não era permitido comer carne de animais de sangue quente, molhos e sopas de carne. Não era permitido comer entre as refeições, embora bebidas pudessem ser tomadas. Esses dias eram: quarta-feira de cinzas, toda sexta e sábado da Quaresma (até meia noite no Sábado Santo), em cada uma das Quatro Temporas, Vigília de Pentecostes, Assunção, Todos os Santos e Natal. [Cânon 1252/2]
Os dias tradicionais de abstinência aos que usam o Escapulário de Nossa Senhora do Monte Carmelo são Quartas e Sábados.
Fonte: The year of Our Lord Jesus Christ 2009, The Desert Will Flower Press.
(Post originalmente publicado na quaresma de 2009)
 

Indicações de leitura


Caros Irmãos sugiro estes livro, peço que por caridade leiam (mais de uma veis) e divulguem estes livros. Se temos realmente o desejo por uma restalração da nossa Liturgia, temos que fazer que o povo de Deus conheçe para desejar a Verdadeira oração da Mãe Igreja e só assim pedir aos pastores (com Caridade) que rezem segundo a Igreja.



Trecho do Livro “Lembranças da Minha vida” do Santo Padre


Amados irmão em Cristo Pax ET Bonum.
Estamos sem postar já há alguns dias, mas deixe nós nos justificarmos. É que estávamos em preparação e depois em retiro no período de carnaval e também no fim de semana seguinte ao carnaval no primeiro final semana da quaresma, que, aqui em forma de partilha, foram dias de muita graça para nossa comunidade reunida.
No período de carnaval estivemos a oportunidade de termos a presença partilhando conosco nos momentos de pregações: O nosso pároco Padre José Aloísio, Padre Nilton, Diac. Luciano, Diac. Charles, Ir. Evelton (Fundador da Comunidade Caritas), A Fraternidade O Caminho com o Ir. Palpere com a guardiã da missão de Maceió a Ir. Débora e as outras irmãs que fazem esta missão. Foram dias de muitas graças quando tivermos com as fotos nós publicamos.
 No final de semana tivemos a presença da fraternidade Arca de Maria com o Pe. Rodrigo Maria (fundador), que veio nos direcionar para uma quaresma verdadeiramente penitente e com espírito de conversão e não “ecológica” e de culto a Gaia.
Colocamos fotos das Fraternidades Arca de Maria e O Caminho (não são fotos do retiro) para os irmãos conhecer.

Pe. Rodrigo Maria (fundador da Fraternidade Arca de Maria)



Pe. Gilson (fundador da Fraternidade O Caminho)

 Fraternidade O Caminho

Pois bem para continuarmos nossas postagens queremos recomeçar com um trecho do livro “Lembranças da Minha Vida” que é uma autobiografia do Santo Padre quando ainda cardeal e que reflete sem rodeios o seu pensamento sobre a reforma litúrgica e o seu desejo de um novo movimento litúrgico. Deixaremos uma parte agora e logo em breve colocaremos outras partes e algumas reflexões a cerca do que vamos encontrando.
Só lembrando que o negrito e os grifos são meus.
            Que tenham uma leitura conduzida pelo Santo Espírito e a Grande Mãe de Deus seja sempre vosso auxilio.
Ave Maria Immaculata.

"[...]A publicação do missal de Paulo VI, com a proibição quase na totalidade do missal precedente, se deu após uma fase de transição de cerca de seis meses. O fato de, após um período de experimentações que muitas vezes tinham transfigurado profundamente a liturgia, tornamos a dispor de um texto litúrgico vinculativo. Era sem dúvida um acontecimento de louvar. Mas causou-me espanto a proibição do missal precedente, uma vez que nunca se tinha verificado nada semelhante na história da liturgia. Foi dada a impressão de que tudo aquilo era normal. O missal anterior foi editado por Pio V em 1570, no seguimento do Concílio de Trento; por conseguinte, era normal que, quatrocentos anos mais tarde e após um novo Concílio, um novo Papa publicasse um novo missal. Mas a verdade histórica é porém outra. Pio V limitara-se a mandar reformular o missal romano que estava então em uso, como no decurso da História se verificara em todos os séculos. Tal como ele, também muitos dos seus sucessores tinham mandado reformular novamente o missal, sem nunca contrapor um missal a outro. Tratou-se sempre de um processo contínuo de crescimento e purificação, que, no entanto, nunca deixava de ter em consideração a continuidade. Não existe um missal de Pio V que tenha sido criado pelo próprio. Existe apenas a reformulação que ele mandou fazer, enquanto fase de um longo processo de crescimento histórico.

O novo missal, após o Concílio de Trento, foi de outra natureza: a irrupção da reforma protestante concretizara-se, sobretudo, na perspectiva das “reformas” litúrgicas. Não havia simplesmente uma Igreja católica e uma Igreja protestante, lado a lado; a divisão da Igreja processou-se de forma quase imperceptível e encontrou a sua manifestação mais visível, e mais incisiva do ponto de vista histórico, na alteração da liturgia, que, por sua vez, se revelou bastante díspar a nível local, tanto que se tornava às vezes difícil de definir os limites entre aquilo que era católico e aquilo que já não o era. Neste contexto de confusão, que apenas foi possível pela ausência de uma normativa litúrgica unitária e pelo pluralismo litúrgico herdado da Idade Média, o Papa Pio V decide que o Missale Romanum, o texto litúrgico da cidade de Roma, uma vez que não havia dúvida que era católico, devia ser introduzido em todos os locais onde não fosse possível reclamar uma liturgia que remontasse a pelo menos duzentos anos antes”.

Nos locais em que isto se verificava, era permitido manter a liturgia precedente, dado que o seu caráter católico se podia considerar seguro. Como tal, não é possível falar de uma proibição no que diz respeito aos missais anteriores e aprovados de forma regular até àquele momento. Nessa altura, pelo contrário, a promulgação da proibição [pelo Vaticano II] do missal que tinha sido desenvolvido ao longo dos séculos, desde o tempo dos rituais da antiga Igreja, comportou uma ruptura na história da liturgia, cujas conseqüências não podiam deixar de ser trágicas. Tal como já acontecera em muitas ocasiões anteriores, era perfeitamente razoável e concordante com as disposições do Concílio que se procedesse a uma revisão do missal, sobretudo no que se referia à introdução das línguas nacionais. Todavia, o que aconteceu nessa altura foi outra coisa: destruiu-se completamente o edifício antigo e construiu-se outro, ainda que com os materiais de que era feito o primeiro e utilizando até os projetos anteriores.

Não resta qualquer dúvida de que este novo missal continha sob muitos aspectos autênticos melhoramentos e um verdadeiro enriquecimento, mas o fato de ter sido apresentado como um edifício novo, em oposição àquele que se tinha vindo a construir no decorrer da história, de se ter proibido este último e de se fazer surgir a liturgia já não como um processo vital, mas como um produto da erudição dos especialistas e da competência dos juristas, acarretou-nos prejuízos de extrema gravidade. Deste modo, desenvolveu-se na verdade a idéia de que a liturgia é “fabricada”, que não se trata de algo cuja existência nos precede, qualquer coisa de “dado”, mas que depende das nossas decisões. Conseqüentemente, daí resulta que esta capacidade de decisão não seja reconhecida apenas aos especialistas ou às autoridades centrais, mas que, em suma, cada “comunidade” queira criar a sua própria liturgia. Todavia, quando a liturgia passa a ser algo que cada um faz por si, deixa de nos dar aquela que é a sua qualidade mais genuína: o encontro com o mistério, que não é produzido por nós, mas antes a nossa origem e a nascente da nossa vida [...]"

Traremos em breve a sequencia desse trecho do livro